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Prepara-se para pilotar um carro de Fórmula 1 e submergir nesse ambicionado e sonhado momento fora do alcance do comum dos mortais.

Apalpe um circuito, vista-se de piloto, escorregue no estreitíssimo habitáculo (cockpit), sentado, enfie o capacete, baixe a viseira e cole o volante por cima dos joelhos.

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Ao 1, 2, 3 ..., semáforos encarnados desaparecem, acelere, sinta a adrenalina do prego a fundo a mais de 300 km/h numa reta, adorne nas curvas e contracurvas e arrisque aquela ultrapassagem que leva milhares na bancada ao delírio e provoca o êxtase coletivo a quem está colado a um ecrã por esse mundo fora.

Na era do “Drive to Survive” são estas as primeiras sensações visuais – já iremos a outras – tidas, não num simulador, mas colados numa cadeira de uma sala de cinema perto se si (aconselhamos a tecnologia imax) a ver F1 “O filme” - produzido pela Warner e pelos Apple Studios.

A partir deste instante, o leitor abandona o papel de espetador e encarna, a trezentos à hora, a pele de um piloto de Fórmula 1 pronto a voar num bólide durante parte dos 156 minutos desta “corrida” que junta ficção e realidade.

A história e o drama do maravilhoso Grande Circo, carregada de acontecimentos fictícios, replica episódios verdadeiros. Cruza fantasia com cenas e pilotos reais filmados em icónicos Grandes Prémios, Qatar Airways British GP, circuito de Silverstone, Heineken GP Países Baixos, em Zandvoort, Pirreli GP de Itália, Monza ou o Ethiad Airways GP Abu Dhabi, circuito citadino que encerra a temporada e o filme.

Sonny Haves, o maior que nunca foi, e a inspiração

Comecemos pelo natural conto hollywoodesco realizado por Joseph Kosinski, o olho por detrás da realização de “Top Gun: Maverick".

Desde logo, F1 “O Filme” gira à volta de Sonny Hayes (Brad Pitt), “o maior que nunca foi”, conforme é recordado na película, Joshua Pearce (Damson Idris) e a Apex Grand Prix (APXGP) escuderia de Ruben Cervantes (Javier Bardem) cuja diretora de equipa é Kate McKenna (Kerry Condon), a primeira mulher a sê-lo num mundo ficcionado.

O caminho no feminino não está tão de longe de acontecer em carne e osso, ou não existam cada vez mais engenheiras e mecânicas neste mundo, outrora, reservado a homens.

É a parte de pura ficção. Tudo fictício, nomes, pilotos e escudaria, fique já a saber, evitando googlar para ver quem é quem na equipa que, no entanto, usa um F2 adaptado tingido de preto e pintado com as cores de patrocinadoras verdadeiros – IWC, Tommy Hilfiger e MSC – e um real motor Mercedes AMG.

O trama, uma fantasia parecida com a realidade, dramatiza as relações entre o velho e errático Hayes, piloto regressado (no filme) às pistas de F1, três décadas depois de um acidente que o atirou para fora do passeio da fama, e o novato, e irreverente, Pearce, à procura de um lugar ao Sol e espaço entre a ribalta das luzes das redes sociais.

Esta relação, por vezes tensa, em pista e fora dela, entre colegas da mesma equipa, tensões levadas ao extremo de um, ou os dois, serem atirados para fora de pista, não está assim tão distante da realidade.

Quem não se lembra do choque entre Vettel e Leclerc, 2019, no circuito de Interlagos, GP Brasil em 2019.

Inspiração num desastre real. Romanceado regresso às pistas

Em “F1: O Filme” há uma ténue fronteira entre o fabricado e o inspirado em factos reais.

À medida da rodagem, salivamos ao olhar para os dois atores, somos os seus olhos, respiração, quase que entramos nos capacetes dos pilotos de brincar ou sentimos escorrer pelo nosso rosto o suor que pinga na tela.

O piloto fictício Sonny Hayes (Brad Pitt ) é inspirado na história verdadeira de Martin Donnelly.

Donnelly, piloto na vida real, nascido na Irlanda do Norte, fez parte da Camel Team Lotus (1990) depois uma breve passagem ao serviço da Arrows Grand Prix International, no ano anterior.

Dois anos entre os grandes da F1 e zero vitórias - as muitas esperanças neles depositadas despistaram-se na malfadada curva do 14.º GP em que participou.

Dentro do Lotus amarelo pintado com as cores da antiga marca de tabaco, sofreu um grave acidente na curva 12 do circuito de Jerez de la Frontera, 28 de setembro de 1990, GP de Espanha - imagens surgem no filme - depois de ter acelerado uma semana antes no GP Portugal, Autódromo do Estoril, de onde saiu vencedor Nigel Mansell (Ferrari), seguido por Ayrton Senna (McLaren-Honda) e Alain Prost (Ferrari), os três heróis da década de 90.

O regresso de Hayes (não de Donnelly) ao grid da F1, uma “carinha laroca” desenhada pela divindade do sexagenário ator sempre capaz de se (re)transformar no Benjamin Button, é sabe-se, mera ficção.

No entanto, os fãs de Fórmula 1 podem recuperar da memória histórias inspiradoras do regresso de velhos pilotos dados como “mortos” para se (de)baterem com as novas gerações.

À cabeça, Niki Lauda, Mika Häkkinen (às portas da morte em 1995 e foi bicampeão do mundo, 1998, 1999, Felipe Massa e Fernando Alonso (44 anos).

Mas nem só de questões de idade se debruça esta radiografia feita à Fórmula 1. O velho piloto encarnado por Brad Pitt mistura o estilo entre um cowboy das pistas e o Chuck Norris do volante, de condução punk-rock.

Atos e ações que podem parecer um filme, mas não.

Isto porque a estratégia de provocar acidentes (obrigando ao esvoaçar das bandeiras amarelas e vermelhas) e atirar outros pilotos para fora de pista não é, assim, tanto distante da realidade vista no alcatrão.

Quem não se recorda do choque “propositado” de Nelson Piquet Jr no GP Singapura 2008, levando à entrada do safety car e que contribuiu para a vitória de Alonso.

“Não há uma única cena ... que não tenha acontecido nas corridas reais”

Há no filme cenas reais e cenas que os nossos olhos veem e que nos transporta até factos passados.

A realidade e ficção aceleram por entre ultrapassagens, derrapagens e travagens. Há muita velocidade, violentos choques entre os carros, contra os muros ou saídas de pistas só paradas na gravilha.

A tão aguardada ida às boxes para troca dos pneumáticos, de macios para intermédios, (onde entram mulheres) disputada ao milésimo de segundo num ensurdecedor barulho que parece um berbequim a entrar nos tímpanos, deixamos de boca aberta.

As sensações de cone de vento são decalcadas de toda a tecnologia em que hoje a F1 está mergulhada, na pressão e temperatura dos pneus, assim como a verificação do nível das baterias e a avaliação do estado das asas e saias do carro.

E, por fim, o levanta e baixa macaco num piscar de olhos que leva ao eletrizante regresso à pista quase que nos tira o fôlego, em especial das inúmeras cenas (ficção que replicam atos reais) em que um piloto conduz no vermelho da legalidade antes de atirar o adversário para fora de pista quando procura ajudar o companheiro de equipa.

Tudo isto se vê, tudo isto se sente, muito disto é real.

Bem real são também uma mão cheia de pilotos de Fórmula 1 interpretando-se a si mesmos, incluindo Lewis Hamilton, Max Verstappen, Sergio Pérez, Charles Leclerc, Carlos Sainz Jr e Fernando Alonso.

Para além de dar a cara, o heptacampeão Lewis Hamilton entrou na produção (assim como Toto Wolff), através da sua produtora, Dawn Apollo Films, e serviu de inspiração a Brad Pitt.

Em suma, “F1: O Filme” é uma obra de ficção que procura retratar a realidade do drama da Fórmula 1 usando cenas e personagens da vida real. “Não há uma única cena (retratada) ... que não tenha acontecido nas corridas reais”, resumiu Eddy Cue, vice-presidente da Apple e membro da Administração da Ferrari.