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Num artigo escrito pela sexóloga Marie Morice, lembra o episódio em que uma mulher de 52 anos recorre a si para pedir ajuda. Contou-lhe que estava com o marido há mais de 30 anos, mas nunca tinha tido um orgasmo durante o sexo. “Sempre pensei que essa parte de mim estava estragada”, disse.
A sexóloga assegura que, infelizmente, essa crença – de que o prazer não é para elas – é algo que ouve repetidamente enquanto sexóloga francesa a trabalhar no Reino Unido. "Muitas mulheres, especialmente neste país, têm dificuldade em permitir-se pedir, querer e sentir", diz.
"O contraste com a confiança que vejo em França é enorme. Numa oficina que conduzi em Paris no ano passado, uma mulher na casa dos 60 anos disse, com naturalidade, a um grupo de outras mulheres: 'Claro que ainda me masturbo – nunca dependeria de um homem para isso.' Todo o grupo riu, não por vergonha, mas em solidariedade. Para ela, o prazer sexual era simplesmente parte da vida, como boa comida ou boa companhia."
Muitas mulheres britânicas acreditam que o prazer não é para elas, devido a uma cultura de silêncio e vergonha, enquanto em França o sexo é parte aberta e natural da vida. A sexóloga parisiense explica que, em França, o sexo é falado sem pudor, o que ajuda as pessoas a sentirem-se sexualmente realizadas ao longo da vida, mesmo após a meia-idade. As francesas não vêem o prazer como um luxo ou algo apenas para jovens, e valorizam a honestidade e o diálogo com os parceiros para manter a intimidade viva.
Destaca a importância das mulheres reclamarem o direito ao prazer, seja por meio de pequenas práticas diárias, da autoexpressão ou de comunicar desejos ao parceiro. Segundo a própria, a chave está na confiança, no reconhecimento do desejo como algo natural e na liberdade para falar sobre ele sem vergonha.
Assegura que apesar da fama de infidelidade, os franceses não têm necessariamente mais casos extraconjugais, mas mostram maior aceitação da complexidade do desejo e compromisso ao longo do tempo, sentindo-se mais realizados sexualmente por falarem abertamente sobre o tema.
A sexóloga, partilha que ajudou muitas mulheres a redescobrir o prazer sexual e a confiança pessoal, mostrando que o prazer não depende de desempenho, mas de autenticidade. Em França, o prazer é visto como uma força vital acessível a todas as idades, e o seu projeto “Pleasure Atelier” reflete essa filosofia, criando espaços para as mulheres se reconectarem com a sua sexualidade.
Enquanto no Reino Unido as mulheres mais velhas tendem a ser vistas como cuidadoras e perderem o papel de seres sexuais, em França há modelos de mulheres maduras que expressam sensualidade e falam abertamente sobre sexo, inspirando outras a valorizarem a sua vida sexual independentemente da idade. A meia-idade é encarada como um tempo para redescoberta e afirmação sexual, essencial para manter o desejo vivo em relações longas.
A especialista partilha três dicas para que as mulheres possam viver a sexualidade como as francesas.
Trata-te como uma parisiense
"Os clichés sobre as parisienses são, em geral, verdadeiros: costumam restringir a dieta para manterem-se magras e raramente falam da menopausa – 'quelle horreur!' Há uma vaidade e pressão para se manterem sexualmente desejáveis que eu não gostaria que as britânicas imitassem.
Mas há também um sentido inato de si mesmas como seres sexuais que gostava que as britânicas adotassem. Está na forma de vestir, de falar, de ocupar espaço. É uma mentalidade de autoestima. Por demasiado tempo, aqui, desde a cultura grosseira dos magazines masculinos nos anos 90 até à prevalência atual do OnlyFans e do porno, a conversa tem girado à volta do prazer masculino e do cumprimento dos desejos dos homens. As francesas, ao contrário, vêem-se como tão merecedoras de satisfação como qualquer um.
Pode parecer trivial, mas usar lingerie bonita por baixo da roupa do dia-a-dia, perfumar-se ou acender uma vela pode ser um lembrete poderoso de que mereces prazer. Faz de ti mesma a tua própria fantasia."
O prazer é essencial, não um luxo
"Em Paris, há uma cadeia de lojas de sex shop para mulheres chamada Passage du Désir, que é muito diferente dos sex shops decadentes do Soho, em Londres. São um exemplo de como o sexo está integrado no quotidiano e como é normal para as francesas comprar um brinquedo sexual. Os sex toys são anunciados na televisão e discutidos em artigos de jornais.
Muitas das minhas clientes britânicas perderam o contacto com o prazer sensorial, por isso peço-lhes que comecem pequeno. Que sintam o sol na cara, bebam um copo de rosé bem fresco ou ouçam uma música que adoram – qualquer coisa que lhes traga prazer. Quanto mais sintonizadas estiverem com o corpo, mais prazer permitem."
Aprenda a falar
"O desejo não é vergonhoso, é humano – e nós, franceses, sabemos que quanto mais falamos sobre isso, mais empoderadas ficamos.
Aqui no Reino Unido, ouço muitas vezes mulheres queixarem-se que os parceiros não as satisfazem. Por vezes, se os problemas começaram fora do quarto – mulheres acumulam ressentimentos sobre o comportamento dos parceiros –, sugiro terapia de casal; outras dizem-me que odeiam o marido, o que não ajuda a reacender a chama.
Muitas vezes, porém, passam anos, até décadas, em que as mulheres esperam que o parceiro saiba intuitivamente como as agradar, sem nunca dizerem nada. Sei que pode ser difícil, mas temos a responsabilidade de ajudá-los a aprender, e na minha experiência, a maioria dos homens quer aprender.
Incentivo as clientes a escreverem uma lista de fantasias, começando com “Sempre quis…” e depois ajudo-as a ganhar coragem para contar ao parceiro uma coisa que querem. Na maioria das vezes, ele fica encantado – e uma vez ultrapassada essa barreira, fica muito mais fácil da próxima vez."
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