
Cerca de 450 mil bilhetes para o concerto já foram vendidos, o que equivale a mais de metade da população de Zagreb, sublinhou a polícia, em conferência de imprensa, descrevendo o evento como “a operação mais exigente alguma vez organizada em termos de segurança pública”.
Além da segurança, a polícia planeia ter um hospital de campanha com 200 camas perto do Hipódromo, onde o concerto terá início às 21:00 locais (20:00 em Lisboa).
Os organizadores do concerto afirmam, no anúncio do evento, que “símbolos ou insígnias que promovam o ódio, a intolerância, o racismo ou ideologias extremistas” são proibidos.
Ícone do folk-rock no país de 3,8 milhões de habitantes, Thompson, cujo nome verdadeiro é Marko Perkovic, foi proibido de atuar em concertos em vários países europeus devido ao seu apoio declarado ao regime Ustasha, colocado na liderança da Croácia em 1941 por Hitler e Mussolini.
Os ‘ustashe’ perseguiram e mataram centenas de milhares de sérvios, judeus, croatas antifascistas e ciganos nos campos de concentração croatas durante a II Guerra Mundial.
Não é raro encontrar emblemas deste regime fascista nas suas produções teatrais, e o cantor, assim como os seus fãs são vistos, com frequência, a fazer saudações com os braços estendidos, sobretudo quando inicia a sua canção mais famosa, ‘Bojna Cavoglave’, que começa por gritar o ‘slogan’ utilizado como saudação pelo regime Ustasha: “Za Dom – Spremni” (“Pela Pátria – Prontos”).
Em entrevista à estação pública de televisão HRT, Thompson afirmou que queria “contar uma história positiva da Croácia, repleta de amor pelos [seus] valores: o amor a Deus, à família e à pátria”.
Não há “nada de controverso” nesta música, disse o cantor, que recusou simpatias fascistas e se tornou famoso durante a guerra da década de 1990, que opôs as forças croatas, leais ao Governo da Croácia — que tinha declarado independência da República Socialista Federativa da Jugoslávia – ao Exército Popular Jugoslavo, controlado pelos sérvios.
O Centro Simon Wiesenthal, organização internacional de direitos humanos que luta contra o antissemitismo e se foca sobretudo no Holocausto, acusou Thompson de glorificar o genocídio nas letras das suas canções e disse que a projeção da insígnia ‘ustashe’ nos seus concertos “não foi uma coincidência nem um erro”.
O passado pró-nazi da Croácia tornou-se menos tabu nos últimos anos, e o uso de símbolos ‘ustashe’ não é punido.
Até agora, a maior concentração no Hipódromo de Zagreb aconteceu em 1994, quando o Papa João Paulo II ali celebrou uma missa.
Em janeiro de 2025, a banda britânica Coldplay conquistou o recorde do maior concerto em estádio, com 223 mil espetadores, menos de metade dos esperados no concerto de sábado.
Um terço do público esperado tem menos de 28 anos, segundo a plataforma de venda de bilhetes Entrio.
A grande maioria dos fãs vê Thompson como um “patriota que promove valores tradicionais como a pátria, a religião e a família”, explicou o historiador Hrvoje Klasic, citado pela agência de notícias francesa AFP.
“A sociedade croata inclina-se tradicionalmente para a direita, mas não é predominantemente pró-Ustasha, nem de extrema-direita, como se comprova pelo fraco desempenho [nas eleições] dos partidos que se dizem de direita”, referiu Klasic.
As últimas eleições legislativas marcaram, no entanto, a entrada no Governo, no âmbito de um acordo de coligação, do Movimento Pátria, conhecido pela sua retórica nacionalista e anti-imigrantes.
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