
A informação do SAPO24 está agora em 24noticias.sapo.pt.
Uma investigação do The Guardian revelou que peças de roupa de marcas britânicas como Next, George (Asda), Marks & Spencer e outras, descartadas por consumidores no Reino Unido, foram encontradas numa enorme lixeira localizada em zonas húmidas protegidas no Gana.
Jornalistas da plataforma Unearthed, em colaboração com a Greenpeace África, identificaram vestuário da marca Next no interior do aterro e em outros locais próximos, bem como peças da George e da M&S.
Estas lixeiras situam-se numa zona húmida de importância internacional, habitat de três espécies de tartarugas marinhas. Os habitantes locais queixam-se de que as redes de pesca, cursos de água e praias estão a ser obstruídos por peças de fast fashion sintéticas, enviadas para o Gana a partir do Reino Unido e da Europa.
Noutra parte da lixeira foram encontradas roupas de marcas como M&S, Zara, H&M e Primark, que se estão a acumular em aterros improvisados ao longo do rio Densu, nas proximidades de zonas húmidas protegidas no Gana.
Na capital, Acra, a situação tornou-se insustentável: toneladas de roupa amontoam-se nas praias, canais e áreas de conservação. Novos aterros ilegais estão a surgir em locais sensíveis, e resíduos têxteis — muitos com etiquetas de marcas britânicas — foram encontrados misturados com vegetação ou meio enterrados na areia. Em alguns locais turísticos, os responsáveis chegam a queimar roupas todas as semanas.
O mercado de Kantamanto, um dos maiores do mundo de roupa em segunda mão, recebe mais de mil toneladas semanais, mas os comerciantes queixam-se da má qualidade crescente das peças. A maioria não tem valor comercial e transforma-se em lixo. Segundo dados locais, apenas 30 das 100 toneladas diárias de resíduos provenientes deste mercado são recolhidas. O resto vai parar a lixeiras, cursos de água, lagoas e ao mar.
O delta do Densu, reconhecido internacionalmente pelo seu valor ecológico ao abrigo da convenção Ramsar, está a ser ameaçado por estas práticas. Espécies em perigo como a tartaruga-de-couro e aves migratórias do Reino Unido dependem desta zona para nidificação. Imagens de drone mostram áreas devastadas, sem qualquer sistema de contenção ou tratamento de resíduos.
Apesar de a assembleia municipal local alegar que supervisiona um dos novos aterros, este tipo de utilização viola as directrizes ambientais do Gana e compromissos internacionais. Moradores relatam impactos dramáticos: redes de pesca entupidas com roupa, água imprópria para consumo e proliferação de mosquitos devido à acumulação de lixo.
As marcas, por outro lado, reconhecem as dificuldades da indústria na gestão dos resíduos têxteis, defendem iniciativas como programas de recolha em loja e afirmam apoiar legislação de responsabilidade alargada do produtor (EPR), que obrigaria as empresas a responsabilizarem-se pelo destino final dos seus produtos.
Comentários