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No documento de 33 páginas da administração Trump denominado "Estratégia Nacional" —na verdade, um condensado sobre o estado e a evolução do mundo, conforme o desejo da atual presidência dos EUA - é reafirmada a escolha do nacionalismo, da luta contra as invasões migratórias, não evoca em algum momento a ameaça da Rússia de Putin mas deixa uma carga brutal contra a União Europeia, em atitude clara de rompimento com o aliado tradicional europeu.
Fica clara a intenção Trump de divórcio entre os EUA e a Europa enquanto entidade coletiva, a União Europeia. Esta publicação prevê que a Europa esteja irreconhecível dentro de 20 anos corroída "por governos minoritários instáveis que espezinham os princípios da democracia para reprimir a oposição". Antevê "o declínio económico da Europa e a perspetiva real, ainda mais sombria, do apagamento da civilização". Trump não escreve que a Europa, está a perder a civilização judaico-cristã, mas é o mal que fica implícito.
A União Europeia é fustigada, como "uma das organizações transnacionais que minam a liberdade política e a soberania". Consequentemente, a "perda das identidades nacionais" é apontada entre os flagelos do velho continente. O documento recupera o que o vice-presidente veio dizer à conferência de Munique, menos de um mês depois de ter tomado posse, está escrito que na Europa não há liberdade de expressão. Para Trump (tal como para Putin), não são os estados europeus individuais, mas a própria União que é o inimigo a combater. O objetivo da Casa Branca é o de dissolução da União Europeia.
Há na Europa algo que deixa Trump satisfeito: é a “influência crescente de partidos europeus patrióticos”, entenda-se a intenção: voltaremos a ser amigos quando a Europa for toda de extrema-direita. Pretende na Europa governos com uma mentalidade "MAGA".
Fica claro que Trump não quer aliados, quer vassalos alinhados. Estamos perante uma chocante declaração de guerra dos Estados Unidos — não militar, mas política — contra a Europa, contra a sua soberania e segurança, e até contra o modo de vida europeu. O presidente dos EUA despreza a Europa, pretende enfraquecê-la e dividi-la. Ele quer a dissolução da União Europeia.
Na prática, Trump executa a partir de Washington o plano que Putin delineou no Kremlin. O chefe russo pretende romper o pacto histórico entre a Europa e a América, que, apesar das suas diferenças, se reconhecem como uma única comunidade de destino criada pela história do século XX e pela rejeição das ditaduras. O atual Kremlin repudia e combate a natureza, a cultura e o modo de vida dos europeus. Conta com Trump como aliado no desprezo do atlantismo e da aliança instalada após a Segunda Grande Guerra. Putin celebra que Trump abrace as ideias iliberais e autoritárias das extremas direitas populistas que crescem em cada vez mais países da União Europeia, também do Reino Unido.
A evidência de que esta agora divulgada nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA de Trump agrada muito a Vladimir Putin está na declaração feita no fim de semana pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov "Consideramos um passo positivo; os ajustes são em grande parte consistentes com a nossa visão". Para que não sobrem dúvidas sobre o que pensam no Kremlin, o ex-presidente Medvedev responde a uma publicação em que
Elon Musk chegou a reclamar "a abolição” da União Europeia": "Exatamente", escreve o agora número dois do Conselho de Segurança da Rússia.
Fica claro que Trump antecipa uma nova partilha do mundo entre EUA, China e Rússia, ao gosto de multimilionários das três potências, também árabes, sem que os valores democráticos sejam alguma referência. Só interessa o lucro para eles e para que os EUA sejam “a maior e mais bem-sucedida nação da história da humanidade e a pátria da liberdade na Terra”, conforme a doutrina MAGA.
Os líderes europeus estarão atentos e a discutir o calibre da ameaça. Não se deu ainda pela resposta que merece, talvez porque ainda estão a contar com algum compromisso para o acordo sobre a Ucrânia. Mas os cidadãos europeus ficaram agora inteirados sobre a ameaça de quem deseja que o continente europeu caia para um sistema “iliberal”, sem democracia, com os ultras como cavalo de Tróia. Há que ter em conta que esta via trumpista pode estar para durar uma dúzia de anos, depois de Trump, J.D, Vance.
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