
Logo no início, Rui Rocha explicou a sua visão do liberalismo como “uma atitude perante a vida”, definindo-o como “o modo de vida daqueles que querem tomar a vida com as suas mãos”.
Para o líder cessante, o liberalismo é também “defender a liberdade de expressão sobretudo daqueles que pensam diferente”. Esclareceu que o liberalismo “não promete tudo a todos”, mas “todos têm uma compensação pelo trabalho”. Sublinhou que, no centro do liberalismo, “a pessoa é quem está no centro da ação política”.
Sobre o debate na Assembleia da República, Rui Rocha apontou para a defesa da liberdade de expressão: “Quando se diz que de um lado uns são fanfarrões e do outro que são frouxos, ambos estão a dizer a verdade, ambos têm razão”. Criticou a nova fórmula que permite usar certas expressões para um estilo e não para um indivíduo, defendendo que a prioridade deve ser sempre a “liberdade de expressão”. “Não façamos das pessoas ignorantes ou parvas, elas estão lá em casa a ver”, frisou.
Sobre o seu mandato, Rocha lembrou “dois anos e meio muito intensos” e os avanços nas áreas da saúde, habitação e na reforma do sistema eleitoral. Sobre esta última, enfatizou: “Não há democracia completa e parlamentarismo representativo se 700 mil portugueses virem que o seu voto não conta para os representar”. Quanto à política social, defendeu que “temos de defender os cidadãos do futuro mas não à custa da miséria dos cidadãos do presente”.
O ex-líder destacou ainda a sua luta contra as políticas identitárias, orgulhando-se da “declaração de morte” que lhes fez, em defesa da “unidade mínima da sociedade”, pois “é a liberdade pessoal que deve mover os corações liberais e não a pertença a qualquer grupo”. E completou: “Os liberais não são polícias de pensamento ou da linguagem, não pegam em forquilhas ou archotes”.
Em relação à nacionalidade, Rui Rocha reiterou uma “posição clara”: “Temos um legado que temos de defender e reforçar. Não é uma transação, implica adesão aos princípios e visão de sociedade”.
No tema TAP, Rui Rocha não poupou críticas, classificando a reprivatização de 49,9% da companhia como “um negócio ruinoso” cuja “cara” é não só o governo de António Costa e Pedro Nuno Santos, “mas também José Luís Carneiro, Luís Montenegro e André Ventura, que querem manter tudo como está”. Acrescentou que o partido “nunca iria para o Governo e queria ter 10, 15, 30 deputados para no dia seguinte estarmos a privatizar a TAP a 49%”. Para ele, trata-se do “negócio mais perturbador e inaceitável da visão que temos para o país”.
Sobre a sua saída da liderança, Rui Rocha explicou que a decisão não foi pessoal, mas política, motivada pelos resultados das últimas eleições legislativas, que ficaram aquém do esperado. “Entrei nas legislativas com objetivo de reforçar votação e influência na governação, sendo exigente e fiel à verdade, tenho que dizer que objetivos não foram cumpridos.” Reforçou que “essas vozes que comentaram os resultados foram absolutamente irrelevantes nessa tomada de decisão”.
Com ironia, Rocha comentou que “pelos vistos sou moderado”, mas negou que tenha sido moderado na defesa do partido: “Podíamos ter 15 deputados e estar no Governo, fomos fortemente pressionados para fazer coligação pré-eleitoral e dissemos que não, disse que não, porque nunca fui moderado”. Reafirmou a existência de “valentia e coragem”.
Rui Rocha pediu um “combate ao chatismo” dentro do partido, incentivando a troca de “mensagens nos chats” por publicações mais consistentes, como artigos de opinião: “Por cada 15 mensagens no chat do partido, publiquem um artigo de opinião.”
Deixou ainda um alerta contra o “sebastianismo”, lembrando que os três últimos presidentes da IL não terminaram os mandatos e “não querem ser presidentes do partido”. “Vamos para a frente, vamos embora!”, apelou. “Quem fala demasiado do passado dá ideia que não tem grande coisa para dizer do futuro”, advertiu.
Por fim, Rui Rocha anunciou que, como ex-líder, pretende “falar menos do partido do que lhe apeteceria” e “respeitar os interesses do partido num certo silêncio”. Afirmou não ter disponibilidade para integrar órgãos do partido no futuro, afastando o risco de “sebastianismo” em torno da sua figura — “a menos que aconteça uma desgraça”. Terminou desejando que os próximos líderes da IL saiam “tão tranquilos de consciência como eu saio”. Aplaudido de pé, disse que dirigir o partido foi “uma honra que não voltará a ter na vida”.
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