A doença de Batten caracteriza-se pela acumulação anormal de “resíduos” celulares nos neurónios, conduzindo à degeneração progressiva do sistema nervoso e, inevitavelmente, à morte celular. Clinicamente, manifesta-se com perda de visão na infância, convulsões e declínio cognitivo, evoluindo em fases avançadas para incapacidade de movimentos e de comunicação. A nível mundial, estima-se que afete cerca de um em cada 100 mil nascimentos.

A forma mais comum da doença está associada a mutações no gene que codifica a proteína CLN3, conhecida como batenina, presente nos lisossomas. O estudo, liderado por Neuza Domingues e Nuno Raimundo, do Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA-Portugal) e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB), revela o papel crucial desta proteína na sinalização que conduz à morte celular.

Publicado na revista científica EMBO Reports, o trabalho demonstra que “a ausência ou alteração da batenina desencadeia uma disfunção lisossomal que provoca danos no ADN e ativa vias de sinalização que promovem a morte celular”, explicam os investigadores da UC.

Nuno Raimundo compara a situação a “semáforos descontrolados numa avenida”: “Quando o centro de reciclagem da célula não funciona corretamente devido à ausência ou alterações da batenina, os detritos acumulam-se e perturbam a sinalização celular, levando a processos de autodestruição.”

Neuza Domingues destaca a identificação de duas proteínas envolvidas nestas vias de morte celular, c-Abl e YAP1, e sugere que “o bloqueio destas vias poderá abrir novas oportunidades de investigação para minimizar ou retardar os efeitos patológicos da doença de Batten”.

Além disso, os resultados podem ajudar a compreender melhor o envelhecimento, já que muitos sintomas da Batten, como demência e perda de visão, são também observados em doenças associadas à idade.

O estudo contou ainda com a colaboração de cientistas do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra, da Universidade de Nápoles (Itália), da Faculdade de Medicina Baylor (Estados Unidos) e do Centro Médico Universitário de Göttingen (Alemanha).

O artigo científico, intitulado Loss of the lysosomal protein CLN3 triggers c-Abl-dependent YAP1 pro-apoptotic signaling, foi disponibilizado online.