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De acordo com o canal britânico, a rápida propagação da Peste Negra pela Europa medieval pode ter a sua origem numa enorme erupção vulcânica. A conclusão resulta do cruzamento de indícios ambientais e registos históricos analisados por equipas científicas de Cambridge e da Alemanha.
Os investigadores explicam que partículas de fuligem encontradas em camadas profundas de gelo na Antártida e na Gronelândia indicam a ocorrência, por volta de 1345, de uma erupção de um vulcão até agora desconhecido na região tropical. Essa erupção terá envolvido “uma espessa névoa de cinzas e enxofre” que cobriu o planeta.
O estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, sublinha que estes dados coincidem com relatos da época que mencionam céus persistentemente nublados e eclipses lunares escurecidos.
Uma nova análise de anéis de árvores revelou ainda três anos consecutivos de crescimento reduzido, o que aponta para um período de clima frio e húmido provocado pela névoa vulcânica — condições ideais para falhas agrícolas em larga escala.
O historiador Martin Bauch, coautor do estudo, explicou à Sky News que o impacto desta erupção sobre a produção alimentar poderá ter sido o primeiro passo rumo à pandemia: “Nos anos que antecedem a chegada da Peste Negra, há um clima muito invulgar desde Inglaterra, passando pelo Mediterrâneo, até ao Levante”, afirmou.
“Esse padrão de grande escala só pode ter uma explicação climática e o vulcão é uma boa hipótese porque o impacto duraria dois ou três anos. Tudo se encaixa”, acrescenta.
Segundo os investigadores, a subsequente crise alimentar explica porque é que cidades marítimas como Veneza, Génova e Pisa procuraram abastecimento de cereais junto dos mongóis da Horda Dourada, no Mar Negro, em 1347.
Estudos anteriores já tinham identificado que os navios carregados de grão transportavam também pulgas infetadas com Yersinia pestis, provavelmente provenientes de gerbos selvagens da Ásia Central. Uma vez em Itália, as pulgas passaram para ratos e outros mamíferos, criando as condições para a devastação que se seguiu.
Sobre esse momento decisivo, Martin Bauch explicou ao canal: “Estas poderosas cidades-Estado italianas tinham rotas comerciais de longa distância que lhes permitiam ativar um sistema altamente eficiente para evitar a fome. Mas, no final, isso conduziu a uma catástrofe muito maior”.
Outro dos autores, Ulf Buentgen, da Universidade de Cambridge, afirmou que os múltiplos fatores que deram origem à Peste Negra representam um exemplo precoce das consequências da globalização: “Embora a coincidência de fatores que contribuíram para a Peste Negra pareça rara, a probabilidade de doenças zoonóticas emergirem com as alterações climáticas e se transformarem em pandemias é provável que aumente num mundo globalizado”, disse.
“Isto é especialmente relevante tendo em conta as nossas experiências recentes com a Covid-19”, sublinha.
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