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O som dos pequenos pés de tartaruga gigante, um fenómeno raramente observado nos últimos anos, voltou a ecoar graças à primeira incubação artificial bem-sucedida da espécie. Uma semana depois da intervenção, as 13 crias estão a ganhar força à base de fatias de banana e folhas, nas Seychelles, lar de uma das últimas populações sobreviventes desta tartaruga, diz o The Guardian.
Como membros de uma das maiores e mais longevas espécies de répteis do mundo, as tartarugas gigantes-de-Aldabra podem vir a atingir cerca de 250 kg e viver mais de um século. Estes recém-nascidos são sobreviventes de 18 ovos retirados de um único ninho na ilha Cousin por conservacionistas locais, depois de os cientistas terem utilizado uma técnica microscópica inovadora para determinar se os ovos continham embriões em risco.
Segundo os investigadores, este ensaio bem-sucedido pode ser crucial para evitar uma crise de extinção noutras espécies ameaçadas.
Alessia Lavigna, natural das Seychelles e atualmente investigadora na Universidade de Sheffield, autora principal de um estudo recente relacionado com o projecto, descreveu o momento como “um enorme salto” que evidencia o potencial da conservação.
O estudo analisou as taxas de reprodução de cinco espécies de tartarugas e tartarugas-de-terra, revelando que 75% dos ovos não desenvolvidos tinham sido fertilizados, mas os embriões morreram ainda numa fase inicial. Estes resultados permitem olhar para a baixa taxa de eclosão dos ninhos selvagens da tartaruga gigante-de-Aldabra, considerada vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). A causa do insucesso parece estar mais relacionada com fatores ambientais do que com traços genéticos da espécie.
As tartarugas gigantes foram extirpadas de quase todas as ilhas do Oceano Índico no século XIX devido à caça por marinheiros. No entanto, a população das ilhas Aldabra, nas Seychelles, sobreviveu graças ao isolamento geográfico. Juntamente com 400 outras espécies endémicas e a extraordinária variedade de cores do arquipélago, contribuíram para que a região fosse classificada como Património Mundial pela UNESCO em 1982.
Como medida preventiva, alguns exemplares foram transferidos para ilhas vizinhas, incluindo a ilha Cousin, na esperança de estabelecer populações de reserva perante novas ameaças.
Segundo Lavigna, a reprodução nas ilhas parece baixa porque há poucas observações de juvenis nas últimas décadas. Estudos de longo prazo registam apenas os mesmos indivíduos, levantando dúvidas sobre se a relativa estabilidade populacional se deve à longevidade das tartarugas e não à sua taxa de reprodução.
A incubação de ovos fertilizados, em ensaio conjunto com a Save Our Seas Foundation, Nature Seychelles e várias organizações de conservação locais, pode ajudar a reforçar os números em caso de crise. No entanto, a prioridade da investigação será melhorar as condições dos ninhos selvagens.
“Incubar ovos artificialmente não é uma solução a longo prazo. Não podemos depender de intervenção humana para recolher, incubar e devolver os ovos,” afirmou Nicola Hemmings, da Universidade de Sheffield. “É preciso identificar os fatores que afectam a sobrevivência e encontrar formas de melhorar o ambiente natural dos ninhos.”
A equipa pretende partilhar os resultados com cientistas das Ilhas Galápagos, que acolhem a única outra espécie de tartarugas gigantes do mundo, reforçando o potencial de replicação do método para a conservação global desta espécie emblemática.
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