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Um mapeamento inédito conduzido pelo The Guardian, Watershed Investigations e Investigate Europe revelou que milhares de aterros no Reino Unido e na Europa, muitos construídos antes das normas modernas de contenção de poluição, estão localizados em zonas vulneráveis a cheias, representando uma ameaça significativa para a água potável, ecossistemas e áreas protegidas caso resíduos tóxicos sejam libertados.
Investigadores encontraram líquidos provenientes dos aterros (lixiviados), que se formam quando a água percola através do lixo e arrasta consigo químicos e poluentes, contendo níveis elevados de PFAS e metais pesados como mercúrio, cádmio, arsénio e chumbo, frequentemente acima dos limites legais para água potável, afetando rios e zonas de captação.
A exposição costeira é particularmente preocupante, com centenas de aterros próximos de erosão ou marés fortes – em Inglaterra, País de Gales e França, foram identificados 335 aterros em zonas de erosão costeira, e 258 em toda a Europa a menos de 200 metros da costa. Muitos destes aterros estão localizados em áreas habitadas, com cerca de 80% da população britânica vivendo a menos de dois quilómetros de um aterro, frequentemente em zonas mais desfavorecidas. Além disso, mais de dois mil aterros europeus situam-se em áreas de conservação, representando risco para a fauna e flora, pois os lixiviados químicos podem acumular-se em ecossistemas sensíveis.
A investigação destaca ainda a falta de registos centralizados de aterros na UE, com dados fragmentados, inconsistentes e muitas vezes inacessíveis, dificultando a identificação dos sites de maior risco e a avaliação dos impactos reais na saúde humana e ambiental.
O artigo nota casos específicos, como o lixiviado tóxico no Newgate Nature Reserve (Cheshire, Reino Unido) ou no Maratholaka (Grécia), demonstram a presença de contaminantes muito acima do permitido. A situação é agravada pelo depósito ilegal de resíduos, um problema crescente associado ao crime organizado, como demonstrado por operações recentes na Croácia e no sul de Itália, onde resíduos tóxicos da máfia causaram aumento de doenças e mortalidade.
Autoridades europeias e britânicas têm vindo a desenvolver programas de monitorização, estudos sobre PFAS e medidas de gestão de resíduos. No Reino Unido, a Environment Agency realiza avaliações de risco e investigação de aterros prioritários, enquanto a Defra aposta na redução de resíduos, aumento da reciclagem e promoção de uma economia circular. Especialistas alertam, contudo, que as alterações climáticas, com aumento da frequência e intensidade de cheias e erosão costeira, poderão agravar a libertação de poluentes, tornando imperativo o investimento em gestão e remediação de aterros históricos.
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