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A canção explora e amplifica a estética e linguagem da cultura sigma juvenil, um fenómeno digital centrado na figura do "sigma boy", um arquétipo masculino jovem, solitário, confiante, que rejeita normas sociais e hierarquias convencionais. Esta figura é frequentemente representada nas redes sociais como alguém emocionalmente distante, independente e desejado pelas raparigas, que normalmente são violentos ato que partilham e de que orgulham, precisamente a imagem que a canção projecta de forma simplificada e repetitiva.
Esta cultura, popular entre a Geração Alpha, mistura humor absurdo, estética de meme, repetição e ironia. Embora o conceito de “sigma” tenha origem em espaços online ligados a comunidades masculinas mais radicais, entre os mais jovens ele surge frequentemente despolitizado ou transformado em entretenimento ligeiro, por vezes sem plena consciência das suas origens ideológicas. Ainda assim, o seu impacto simbólico permanece, sobretudo quando ganha visibilidade global.
O vídeo de “Sigma Boy”, com uma coreografia simples e refrão altamente repetitivo, espalhou-se rapidamente por plataformas como o TikTok, tornando-se um fenómeno entre crianças e adolescentes. Mas essa viralidade despertou também fortes reacções políticas.
O vídeo levou políticos europeus a criticar a canção por transmitir valores patriarcais disfarçados de inocência pop. Para alguns, é mais um exemplo de soft power russo, que utiliza formatos apelativos para os mais jovens como ferramenta de influência ideológica num momento em que a imagem da Rússia está fortemente contestada a nível internacional.
E as autoridades ucranianas respaldam esta leitura, enquadrando o vídeo como parte de uma estratégia de propaganda cultural em plena guerra, alertando para a utilização de produtos culturais aparentemente apolíticos para normalizar ou difundir valores associados ao regime russo.
O vídeo não foi apenas alvo de crítica externa. Conservadores russos manifestaram-se publicamente contra a canção, acusando-a de sexualizar menores e de representar uma ameaça à moralidade tradicional. Vários responsáveis políticos e religiosos exigiram a responsabilização dos adultos envolvidos na produção do vídeo, incluindo pedidos de intervenção legal.
Se por um lado, é importante a promoção de conteúdos que possam conquistar atenção global (e reforçar uma certa imagem “moderna” da juventude russa) por outro, há a manutenção de um discurso moral conservador fortemente promovido pelo próprio Estado.
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